Falta de uma ação rápida e eficiente do governo revelam incompetência, inércia criminosa e descaso de Bolsonaro e sua equipe com as tragédias que afligem o povo e destroem o meio ambiente
Equipes trabalham na limpeza da Praia dos Carneiros, no Litoral Sul de Pernambuco, nesta sexta-feira (18) — Foto: Wellington Pereira/TV Globo
As manchas de óleo que começaram a aparecer em algumas praias do litoral do Nordeste nos últimos dias de agosto e já atingem os nove estados da Região, é mais uma tragédia ambiental tratada com incompetência e descaso pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL) e seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que logo no início da gestão, em janeiro deste ano, ficaram paralisado e sem ação diante da destruição provocada pelo rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, que matou mais de 200 pessoas e provocou uma destruição sem precedentes no meio ambiente.
Em agosto, as imagens da Amazônia em chamas e os ataques do governo à direção do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) por divulgar os dados sobre o aumento das queimadas e às ONGs por denunciar ao mundo o que estava ocorrendo, levou o governo a fazer acusações infundadas e espalhar fake news para distrair a atenção da população para o fato de nada estar sendo feito para resolver o problema dos incêndios.
O mesmo comportamento foi adotado agora pela dupla Bolsonaro-Salles, enquanto as manchas de óleo já atingiram pelo menos 233 praias de 88 municípios dos nove estados nordestinos, contaminando mais de dois mil quilômetros de litoral, de acordo com levantamento do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Renováveis (Ibama).
Nos últimos sete dias, só em Pernambuco, um dos estados onde as manchas têm se concentrado nas últimas duas semanas, foram recolhidas 958 toneladas de óleo das praias. Os outros estados são Bahia, Sergipe e Alagoas. E na manhã desta sexta-feira (25), grandes manchas de óleo chegaram ao litoral norte de Ilhéus, a 310 quilômetros de Salvador. A região é conhecida por ser um dos trechos mais preservados e isolados do litoral da cidade, cercado por áreas de mata atlântica e fazendas de cacau.
Para a CUT, a falta de uma ação concreta, rápida e eficiente do governo quando ocorrem tragédias como essa revelam a incompetência e a inércia criminosa de Bolsonaro e seu ministro Ricardo Salles que perdem tempo acusando ONGs e a Venezuela, enquanto o óleo segue seu curso de contaminação química que vai demorar anos para ser eliminada.
“O óleo derramado muito provavelmente contaminou todos os organismos do ambiente e isso facilmente cairá na cadeia alimentar”, alerta o secretário de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio.
“Além deste risco”, prossegue o secretário, “os banhistas também correm risco de entrar em contato direto com os contaminantes que permanecerem na água, nos manguezais e nos corais”.
Para o dirigente, o governo perde um tempo precioso lançando na mídia e nas redes sociais teorias da conspiração que relacionam a tragédia a um suposto pacto criminoso entre ‘ONGs e a esquerda’ ou acusando o ‘governo venezuelano’, seu alvo principal, independentemente do drama da ocasião, ao invés de investigar a origem do crime ambiental, atacar as causas, prevenir problemas futuros, em especial para a população mais afetada e o meio ambiente local. Foi essa a tática que usaram no caso das queimadas na Amazônia, diz o secretário.
O que vimos até agora foi uma completa incompetência de reação à calamidade que toma conta do Nordeste, somada a uma ausência absoluta de coordenação e à nefasta tentativa de ideologização de um desastre – Daniel Gaio
Impacto sobre os trabalhadores e trabalhadoras
Além da catástrofe ambiental, a CUT está preocupada com o drama de centenas de trabalhadores e trabalhadoras das cidades costeiras atingidas que sofrerão com as inevitáveis consequências econômicas. São trabalhadores do setor turístico, que trabalham em hotéis, pousadas e restaurantes que poderão ser impactados com a chegada do verão e a fuga de turistas. O impacto ainda é pequeno em função da baixa temporada, mas hotéis e associações temem efeitos entre o mês de dezembro e o Carnaval.
Mais de 16 mil pescadores e pescadoras já estão sendo duramente afetados, diretamente pela presença do óleo na pesca, ou indiretamente pela queda do volume de vendas do pescado, já que os consumidores estão mais cautelosos nas cidades atingidas pelo derramamento de óleo na região.
Incompetência, descaso e violações
A tragédia nas praias nordestinas revelam também violações, incompetência administrativa e descaso do governo com o meio ambiente, afirma Daniel Gaio.
“Bolsonaro extinguiu em abril órgãos fundamentais para resolver rapidamente problemas como esse do óleo nas praias do Nordeste, entre eles dois comitês e conselhos do PNC, o Plano Nacional de Contingência para Incidentes de Poluição por Óleo em Água. Sem contar o processo de desmonte que vem sendo feito no Ibama”, diz.
Questionado sobre o descaso e a incompetência do governo, Daniel diz que é exemplar o caso publicado no Congresso em Foco, que revela que se o Ministério do Meio Ambiente (MMA) tivesse seguido à risca as instruções do PNC, o plano de socorro às praias teria sido instituído em 2 de setembro, mas isso só foi feito 41 dias depois, em 11 de outubro.
De acordo com o site, o MMA cometeu uma série de violações no tratamento que deu ao problema das manchas de petróleo nas praias nordestinas, segundo a primeira versão do PNC formulada pelo governo em 2018. O documento, que tem força legal, foi criado a partir de um decreto presidencial de 2013 e teve sua primeira versão finalizada em 2018, mas não foi publicado oficialmente. O texto não foi compartilhado com estados e municípios e ficou restrito à cúpula do MMA, do Ibama, da Agência Nacional do Petróleo (ANP) da e Marinha.
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