Dossiê Fintechs: BC e Receita intensificam fiscalização das operações das fintechs
- pixealagencia
- 29 de set.
- 3 min de leitura
Novas medidas regulatórias visam fechar brechas usadas para lavagem de dinheiro e garantir igualdade de regras entre fintechs e bancos tradicionais

As autoridades brasileiras deram um passo decisivo no controle das operações de empresas de tecnologia que atuam no sistema financeiro: o Banco Central (BC) e a Receita Federal adotaram novas regras para que as fintechs sejam fiscalizadas com os mesmos rigores aplicados às instituições bancárias.
A articulação faz parte da terceira reportagem da série Dossiê Fintechs — uma parceria entre o Jornal GGN e a Contraf‑CUT — que mapeia os desafios regulatórios do setor. Com a escalada de operações policiais para combate à lavagem de dinheiro, surgiram indícios de que valores da ordem de R$ 50 bilhões estariam sendo movimentados de forma suspeita; outros esquemas identificados pela Receita alcançaram até R$ 140 bilhões.
Quebre nas brechas regulatórias
As fintechs, por muitas vezes, operavam fora da mesma estrutura de exigências que incidem sobre bancos — o que permitia que certas operações ficassem em pontos cegos da fiscalização. Esse “vácuo regulatório” foi explorado por organizações criminosas para ocultar recursos e movimentações ilegais.
Para enfrentar essas falhas, o Banco Central adotou medidas restritivas como:
Estabelecimento de teto de R$ 15 mil para transferências via Pix e TED em algumas fintechs e instituições de pagamento sem autorização plena — medida que vale até que tais empresas comprovem a adequação aos novos padrões de segurança.
Novos requisitos para os PSTI (Prestadores de Serviços de Tecnologia da Informação) que intermedeiam as fintechs no acesso ao Sistema Financeiro Nacional, exigindo capital social mínimo e maior governança.
Obrigatoriedade de obter autorização prévia do BC para operar financeiramente, eliminando brechas de funcionamento provisório com requisitos regulatórios reduzidos.
Antecipação do prazo para que fintechs que já atuam solicitem autorização definitiva — originalmente previsto para dezembro de 2029, agora adiantado para maio de 2026.
Do lado da Receita Federal, novas exigências de transparência foram impostas:
Fintechs agora devem apresentar o e‑Financeira, documento que reúne declarações sobre movimentações financeiras de valor elevado — obrigação já familiar aos bancos tradicionais.
Exigência de informações retroativas desde janeiro deste ano, de modo a permitir a fiscalização de operações passadas que possam ter sido usadas para ocultação.
As fintechs respondem agora às mesmas obrigações de informação que bancos no Sistema Financeiro Nacional (SFN) e no Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB).
Esses ajustes regulatórios, conforme informam as autoridades, foram motivados pela necessidade de “fechar portas para fraudes” e conter usos irregulares do sistema digital em larga escala.
Impactos para os trabalhadores e para o sistema financeiro
Para o movimento sindical, essas mudanças são uma confirmação de alertas antigos: fintechs não podem operar como bancos sem estar sujeitas às mesmas obrigações de segurança, transparência e regulação sindical, trabalhista e fiscal.
O tema ganha ainda mais relevância num momento em que parte da expansão do setor fintech foi acompanhada por práticas de precarização: redução de proteções trabalhistas, ausência de convenção coletiva clara e menor regulação sobre os direitos dos trabalhadores.
Com o endurecimento das regras, espera-se:
Maior segurança ao consumidor e ao trabalhador — menos vulnerabilidade a fraudes e mais previsibilidade regulatória;
Redução das disparidades regulatórias entre fintechs e bancos tradicionais;
Pressão para que as fintechs sejam incluídas em pautas de negociação sindical, considerando seu papel cada vez mais relevante no sistema financeiro;
Transparência e fiscalização ampliadas, de modo que operações suspeitas sejam rastreadas e investigadas.





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